2ª Parte

O tempo passava e tudo estava na mais perfeita ordem na vida de Guima. Sua rotina tranquila consistia basicamente em ir de casa para o trabalho e do trabalho para casa. É claro que, nos intervalos, ela encaixava o salão de beleza, compras, depilação, baladinha com as amigas e esporádicos romances tórridos, que tinham duração de, no máximo, um mês. E ela gostava de afirmar sempre em uma rodinha de amigas: “homem é que nem peixe, depois de três dias já começa a feder”.

Na verdade, no alto de seus 29 anos, ela guardava uma enorme magoa de sua grande paixão. Um assunto que não convém desenterrar, não mesmo. Longe de mim querer remexer em algo tão delicado, mas o fato é que seu namorado fugir com seu melhor amigo Fred foi um golpe e tanto. Principalmente porque Fred era um Pastor Alemão.

Hoje ela divide o apartamento com sua gatinha Anabela, uma samambaia, uma planta carnívora e seus 499 pares de sapatos. Com esses últimos ela passava a maior parte do tempo.
Guima não possui muitas regras, mas este ano era especial, pois completaria 30 anos e, principalmente, porque atingiria a incrível marca de 500 sapatos. Só faltava encontrar o par perfeito.

Faltando uma semana de seu aniversário, e após algumas unhas ruídas, Guima estava passando instruções a seu estoquista quando pousou em sua mesa uma fabulosa caixa dourada, de tamanho médio e bem leve. Não teve dúvidas e abriu a caixa.

Uma luz iluminou seu rosto assim que afastou a tampa. Era tão forte que quase não conseguia ver o que havia dentro. Quando o clarão diminuiu, Guima sentiu seu coração bater forte, pois nunca havia visto sapatos tão maravilhosos como aquele par dourado e preto, com a incrivel chancela de Jimmy Choo. O mais curioso era que ela não lembrava de tê-los em estoque.

Hipnotizada com tamanha perfeição, Guima os retirou da caixa como se fossem um Ovo Fabergé e, naquele momento, soube que as sandalias mais perfeitas do mundo estavam em suas mãos. Ela estava louca para experimentá-las, mas não queria que ninguém estivesse por perto. Assim não correria o risco da inveja.

Com a caixa debaixo do braço saiu correndo e disse para o primeiro que encontrou:
--- Estou passando mal! Preciso ir! Fique no meu lugar.